Se buscarmos a ideia de ritmo em alguns
dicionários, encontraremos um termo derivado do grego rhytmos, e que mantém seu
significado em alguns idiomas (como em espanhol, inglês e português),
designando tudo aquilo que se move, que flui de modo sequencial ou que tem
movimento regulado. O ritmo que envolve os movimentos corporais pode ser
definido como a compreensão original do tempo que nós exercemos com o corpo,
antes mesmo de representá-lo com o pensamento (HELLER, 2003 apud KUNZ, 2003).
Por isso, consideramos que o ritmo está presente em todas as manifestações de
nossa vida, abrange tudo o que conhecemos, incluindo nós mesmos e o modo como
percebemos nossos movimentos no ambiente.
Há bastante associação entre música e ritmo, pois
ela provoca uma sensibilidade maior sobre nossos órgãos sensoriais, e, ao
ampliarmos a intensidade da audição, aumentamos a concentração, e o processo de
transformar o ritmo musical em movimento torna-se espontâneo. De acordo com
essa concepção, os movimentos produzidos não tendem a seguir uma orientação
determinada, fazendo a pessoa se libertar de movimentos corriqueiros e
padronizados. E quando a sensibilidade estética e a concentração melhoram, seja
para ouvir música ou se expressar, é possível desenvolver atividades rítmicas
sem a participação da música.
Para aprofundarmos a compreensão sobre o ritmo,
dois conceitos apresentados por Laban (1978) são importantes: o tempo e o
acento rítmicos. O tempo rítmico em uma série de movimentos pode ser percebido
na combinação de durações iguais ou diferentes de unidades de tempo. Como
exemplos, no caso do esporte, há dois tempos rítmicos na bandeja do basquetebol
e três tempos rítmicos para o deslocamento no handebol, ou para preparar uma
cortada no voleibol. Quanto ao acento rítmico, ele consiste em uma ênfase que
acentua a importância de um movimento, um tipo de tensão que pode surgir de
forma abrupta ou gradual. No caso da luta, temos o exemplo de um golpe efetivo
no boxe após uma sequência de movimentos de esquiva ou, no caso da ginástica, o
momento de transferência de energia e peso em um salto realizado com o apoio
das mãos.
Laban também propôs uma organização do espaço para
analisar o ritmo objetiva- mente, apresentando quatro elementos para a
observação e descrição dos movimentos – direções, planos, extensões e caminhos.
As direções podem ser para a frente, para trás, para a esquerda ou para a
direita; os planos podem ser alto, médio ou baixo; as extensões podem ser
perto, pequena, normal, grande ou longe; os caminhos podem ser direto, angular
ou curvo. No caso do esporte, da luta, da ginástica e da dança, realizados for-
malmente em um espaço restrito (quadra com demarcações, tatame, ringue, solo
demarca- do ou tablado), os elementos citados podem ser relevantes para que
sejam identificados e analisados como atividades rítmicas.
No entanto, essas tentativas de classificação não
são mais importantes do que as possibilidades de expressividade, criação e coeducação,
que os alunos podem vivenciar nas aulas. Por exemplo, para Saraiva e Fiamoncini
(1998), a coeducação em dança permite que alunos e alunas estejam juntos para
elaborar seus pensamentos, sentimentos e movimentos em um processo significativo
e valorativo, sem ações estereotipadas e evitando a demarcação de movimentos
masculinos e femininos.
Fonte: CADERNO DO PROFESSOR DO ESTADO DE SP - 2014-2017